É o ponto de vista que cria o objeto.

Publicado: junho 20, 2013 em Linguistas, Material Didático
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Um século já se passou desde a morte do mestre genebrino Ferdinand de Saussure que direcionou o olhar sobre os paradoxos no funcionamento da linguagem (BENVENISTE, 1966) e assim abriu espaço para criar a ciência da linguagem com a delimitação do objeto de estudo: a língua. A voz do pai da Linguística no Curso de linguística geral (p. 15) perpassa o título deste post.

Que a obra de Saussure é um clássico certamente nenhum dos estudiosos da linguagem duvida. Por exemplo, Fiorin, Flores e Barbisan (2013, p. 7) observam que o livro “Curso de linguística geral, de Saussure, talvez seja o grande clássico da Linguística moderna”. E para justificar a atualidade de Saussurre, os três autores recorrem a um dito de Calvino (1998, p.  11), pelo qual “um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”.

Em outras palavras, quanto mais se lê Saussure mais se aprende sobre a ciência da linguagem. Isto aparece na leitura feita pelo linguista textual Jean-Michel Adam dos Écrits de linguistique générale (2002). No momento em que introduz aspectos atinentes a sua proposta de análise textual dos discursos, Adam (2008) destaca que Saussure, embora tivesse a língua como objeto de estudo, também chegou a falar de uma “linguagem discursiva” nos escritos (2002, p. 95), questionou quanto aos limites entre a língua e o discursivo, bem como produziu uma “nota sobre o discurso”:

A língua é criada unicamente com vistas ao discurso, mas o que separa o discurso da língua, ou o que, em certo momento, permite dizer que a língua entra em ação como discurso?

Conceitos variados estão prontos na língua (quer dizer, revestidos de uma forma linguística), tais como boi, lago, vermelho, triste, cinco rachar, ver. Em que momento ou em virtude de que operação, de que jogo que se estabelece entre eles, em que condições esses conceitos formarão o DISCURSO?

A sequência dessas palavras, por mais rica que seja pelas ideias que evoca, não indicará jamais a um indivíduo humano que outro indivíduo humano, ao pronunciá-las, queira significar-lhe alguma coisa. O que se faz necessário para que tenhamos a ideia de que alguém quer significar alguma coisa, usando termos que estão à disposição na língua? É a mesma pergunta que fazemos para saber o que significa o discurso, e, à primeira vista, a resposta é simples: o discurso consiste, ainda que de forma rudimentar, e por vias que ignoramos, em afirmar um elo entre dois conceitos que se apresentam revestidos de forma linguística, ao passo que a língua apresenta previamente apenas conceitos isolados que esperam ser postos em relação entre eles para que exista significação de pensamento (SAUSSURE, 2002, p. 277).

O linguista textual francês defende que o interesse principal de Saussure é pelo modus operandi que leva à abstração do sistema da língua – o que até aqui não é novidade -, porém acrescenta que a base da operação está nos fatos do discurso.

Vejamos um vídeo produzido pela TV Cultura com a síntese da trajetória de Ferdinand de Saussure.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ADAM, Jean-Michel. A linguística textual: introdução à análise textual dos discursos. São Paulo: Cortez, 2008.

BENVENISTE, Émile. Problèmes de linguistique générale I. Paris: Gallimard, 1966.

CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

FIORIN, José Luiz; FLORES,  Valdir do Nascimento; BARBISAN, Leci Borges. Por que ainda ler Saussure? In: ______ .  Saussure: a invenção da Linguística. São Paulo: Contexto, 2013. p. 7-20.

SAUSSURE, Ferdinand. Curso de linguística geral. Trad. Antônio Chelini, José Paulo Paes, Izidoro Blikstein. 27. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

______. Écrits de linguistique générale. Paris: Gallimard, 2002.

Para ler mais: Sobre mitos e história: a visão retrospectiva de Saussure nos três Cursos de linguística geral, de Cristina Altman.
comentários
  1. […] en 1915. En 1920, il s’installe en Tchécoslovaquie, découvre les théories linguistiques de Ferdinand de Saussure, précurseur du structuralisme. Avec Nicolaï Troubetzkoï, il fonde le Cercle linguistique de […]

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